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A “política da tela vertical”:quando o ódio vira algoritmo e a democracia vira meme

Atualizado: há 6 dias

A nova geração de aventureiros digitais descobriu que destruir instituições dá mais likes do que construir pontes

Editorial de 13 de abril de 2025

Vivemos uma realidade em que até a indignação virou produto com entrega prime, e nela, políticos de extrema-direita transformaram as redes sociais em seu parque de diversões particular. A tal “política da tela vertical” — como nós do sarcastiCOtidiano denominamos aquela maneira de se fazer política por meio de vídeos de 15 segundos, cortes manipulados e frases de efeito que cabem numa tela de celular — é o novo manual do golpismo low effort. Se antes precisavam de tanques para derrubar governos, hoje basta um exército de bots, um punhado de fake news e a habilidade de gritar — “Isso é narrativa!” — antes que a verdade dê as caras. E, mesmo quando esta é exposta, o estrago já feito antes pela desinformação é incomensuravelmente maior e irreparável.


No Brasil, essa estratégia encontrou terreno fértil — ou melhor, e com o perdão do trocadilho, um pasto de gado digital. Jair Bolsonaro, o guru do ódio em formato de stories, mostrou que é possível governar via lives, atacar o STF via X (ex-Twitter), e transformar o WhatsApp numa máquina de distribuir cloroquina e ódio. Enquanto isso, seus herdeiros políticos aprenderam perfeitamente a lição: não é nem sequer preciso ter algum projeto de país, basta um editor de vídeos razoável, um simples aplicativo grátis facilmente encontrado em qualquer lojinha online. O resultado? Uma geração de candidatos que trata a democracia como um reality show, no qual a corrida é abastecida pelo caos, e o prêmio é um mandato que se revelará inútil para o eleitorado, mas extremamente deletério para a sociedade.


Se antes precisavam de tanques para derrubar governos, hoje basta um exército de bots, um punhado de fake news e a habilidade de gritar “isso é mentira!” antes que a verdade dê as caras. E, mesmo quando esta é exposta, o estrago já feito antes pela desinformação é incomensuravelmente maior.

O MANUAL DO GOLPE 2.0: DO BRASIL AO MUNDO


Nos Estados Unidos, foi o bilionário e ex-apresentador de reality shows, grande entendedor do poder das mídias, Donald Trump, quem inaugurou a era do “fact-free politics”, onde tweets substituíram discursos e xingamentos valem mais do que propostas. Na Índia, Nerandra Modi usa algoritmos para transformar tensões religiosas em trending topics. Nas Filipinas, Rodrigo Duterte viralizou ameaças de morte como se fossem os famigerados e perigosos challenges do TikTok. Mas foi no Brasil que a “política da tela vertical” atingiu seu ápice: por aqui, até ameaça de bomba em local público vira clickbait para ganhar seguidores.

O segredo? A ciência do engajamento tóxico. Pesquisas mostram que postagens com ódio geram três vezes mais interações — e os aventureiros digitais sabem disso. Bolsonaro não falava em armas por acaso: ele “armava” algoritmos. Quando um vídeo atacando urnas eletrônicas viraliza, não é ingenuidade: é sabotagem de precisão. E enquanto o cidadão médio discute fatos sem relevância a seu cotidiano, eles vendem feeling — porque, nas redes, raiva é moeda corrente. E com mais lastro que qualquer outra.


O BRASIL COMO LABORATÓRIO DO APOCALIPSE DIGITAL


Enquanto países como Alemanha e França discutem leis para regular deepfakes, o Brasil virou o paraíso das fake news de varejo. Aqui, um simples vídeo editado no CapCut (aplicativo mais comum para edição de vídeos no celular) consegue:


  • Convencer “tiozões do zap” de que a esquerda vai confiscar propriedades;

  • Transformar, para o público alienado, um ministro do STF — que, com suas ações provocadas, salvou nossa democracia — em um patético vilão de anime ou HQ;

  • Fazer o cúmulo do absurdo que chamamos Orçamento Secreto parecer “ajuda aos pobres” e ser bem aceito por milhões de pessoas facilmente manipuladas.


E o pior? Funciona. Nas eleições de 2022, 86% das notícias falsas vieram de canais bolsonaristas (segundo a Fundação Getúlio Vargas), e o orçamento para impulsionar mentiras foi maior que o de muitos partidos. Enquanto isso, o já citado X (ex-Twitter) paga do próprio bolso o recurso de perfil verificado para contas neonazistas, e o Telegram virou uma espécie de caixa de Pandora dos messengers.


MAS CALMA, NEM TUDO ESTÁ PERDIDO PARA O ÓDIO: SÓ 93%...


Não desanimemos. Ainda pode ser que estejamos perdendo a corrida contra a “política da tela vertical”, mas algumas medidas podem e devem ser tomadas para que não deixemos o estrago democrático ficar ainda pior. Tudo bem: algumas delas podem soar controversas ou amargas, porém tempos dolorosos muitas vezes demandam ações ácidas. Vamos a algumas delas:

Regulação das redes já (mas sem viés de censura): Plataformas devem, sim, ser responsabilizadas por impulsionar mentiras. Se um vídeo falso atinge 1 milhão de views, a multa deve ser proporcional — e devidamente revertida para a educação digital.

Transparência radical: Todo post político pago deve mostrar quem o financiou e quanto gastou na brincadeira. Se é “liberdade de expressão” o que tanto pedem — como se já não a tivessem —, que não se esconda o orçamento dessas atividades para lá de questionáveis.

Educação para lidar com a desconfiança: Ensinar nas escolas a diferença entre “opinião” e “curtida patrocinada” também é um ponto fundamental a ser debatido e implementado. Afinal, se até numa prova de Enem existe debate sobre fake news, está na hora de isso também virar matéria obrigatória nas instituições de ensino dos nossos jovens.


Ataque aos financiadores: Quem banca redes de ódio (como certos empresários de WhatsApp) deve ser exposto e punido, sob os critérios da lei — afinal, fake news não é “marketing”. É tão-somente crime digital.


Obviamente, a adoção dessas medidas não nos traz a certeza de que a luta contra tais práticas destrutivas ao sistema democrático possa ter sucesso. Mas todas elas foram resultado de estudos sérios feitos por especialistas no assunto. E convenhamos: ou se faz algo, ou não se faz nada... e aí veremos a democracia ruir, como vem acontecendo na maior potência do mundo, os Estados Unidos, que possuem muito mais brechas para tais pilantagens, na constituição, do que aqui. Reclame à vontade do Brasil, mas ao menos nisso até que tivemos muita sorte por enquanto, em comparação com várias outras nações do mundo.


A saída? Tratar redes sociais como espaço público, não como terra sem lei. Afinal, crime é crime, seja em praça pública ou no mundo virtual. Porque afinal, no fim, democracia não é um jogo de Among Us, em que alguém sempre é “o impostor”.

O FUTURO: UMA ESCOLHA ENTRE O VÍRUS OU A VACINA


A “política da tela vertical” não é só um problema brasileiro, como dito e enfatizado — é uma pandemia global, que pode matar tanto ou mais quanto a própria Covid-19. Mas, enquanto na Coreia do Sul, bots são identificados como “conta não-humana”, aqui eles são candidatos a deputado — e pior: eleitos. A saída? Tratar redes sociais como espaço público, não como terra sem lei. Afinal, crime é crime, seja em praça pública ou no mundo virtual. Porque afinal, no fim, democracia não é um jogo de Among Us, em que alguém sempre é “o impostor”.


Se queremos evitar um “8 de janeiro 2.0” — agora mais ainda em formato de reels —, é hora de lembrar: ódio não é engajamento, é combustível para o autoritarismo. E, como diria algum experto no assunto: “Quem curte desgraça alheia, um dia vira meme”.


AGORA, UM TESTE FINAL AO NOBRE LEITOR


Se você leu até aqui sem checar o WhatsApp ou qualquer outra rede social, parabéns! Você já é 37% mais imune a fake news que a média brasileira. Tente então, pelo menos, fazer sua parte e desconverter um “tiozão do zap”: todos nós conhecemos ao menos um.

 
 

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